segunda-feira, 30 de novembro de 2009

TERCEIRO MOMENTO

O QUE SIGNIFICA RECEBER A MARIANA NA ESCOLA?




O DESAFIO DE ENSINAR

Ensinar é sempre um desafio. Mesmo o professor que se amedronta inicialmente diante do aluno com SD, que em um primeiro momento pensa em fugir da situação é capaz de aprender desde que ele exerça seu papel de educador em sua plenitude.
O que significa receber a Mariana na escola? E o que significa, afinal, receber um aluno com SD em sua sala? Significa, antes de tudo, outro aluno, mais um aluno. A Síndrome de Down se caracteriza por alguns sinais físicos que fazem com que pessoas com a Síndrome sejam parecidas entre si, o que pode levar a posteriores generalizações. Porém, crianças com SD são muitos diferentes entre si, com variados níveis de funcionamento cognitivo, lingüístico, emocional e social. Portanto seu aluno com SD vai se beneficiar com uma avaliação acurada e detalhada para que se possa estabelecer o que ele já sabe, suas competências e suas necessidades (bom mesmo seria se essa avaliação pudesse ser feita com todos os alunos!).

Neste momento, passa pela mente do professor o seu dia cheio de atividades, 20 crianças solicitando sua atenção, atividades a preparar e tarefas a corrigir, e um pensamento inevitável: "Como vou arranjar tempo para fazer uma avaliação detalhada??"  Passou o mesmo na cabeça da professora da Mariana.

Ela é perfeitamente possível, se abranger um parecer dos pais do aluno, laudos de desenvolvimento dos terapeutas que eventualmente o acompanham, dos professores e/ou escola do ano anterior, além de uma observação inicial feita pela própria professora, buscando traçar preferencialmente o conhecimento que o aluno já traz, suas habilidades e talentos, e os canais mais eficientes para se alcançar sua aprendizagem. Uma avaliação que pretenda o levantamento de competências que mostram caminhos, e não apenas das dificuldades que parecem representar grandes obstáculos.
Tendo em mãos estas informações vindas de diferentes fontes, estabelecendo uma rede de apoio com pessoas de dentro e de fora da escola, será possível delinear os caminhos a seguir (abordagem), as metas a atingir (conteúdos) e as ferramentas a utilizar (estratégias), da mesma forma que se pré-estabelecem para todos os alunos.
Mas o grande truque da inclusão é não se fixar no pré-estabelecido. É claro que ensinar a uma turma sem uma direção pretendida seria submergir no caos da liberalidade exagerada, mas incluir (ou melhor, ensinar a todos) significa estar aberto a mudanças, a revisões de percurso, à busca de novos recursos, à criação ou resgate de novas estratégias e materiais, a admitir que preconceitos e rotas pré-determinadas podem sub ou superestimar rendimentos e funcionamentos.
Deixar que as coisas aconteçam no seu tempo, sem descuidar ou adotar atitude passiva, permite que a criança se sinta segura e confiante e dessa forma possa se mostrar. É importante explorar a fase inicial do ano letivo, estabelecendo uma relação positiva e saudável que auxiliará no enfrentamento de novas situações, sejam elas de conquista ou de dificuldades encontradas. Uma relação baseada em sentimentos firmes de confiança e credibilidade permite a experimentação, o acerto e erro e promove aprendizagem.
Saber desta criança, conhecer sobre a síndrome, sobre o histórico escolar e de vida é sem dúvida importante, mas acreditar, sem deixar de ser realista, nas possibilidades da inclusão é o que vai permitir que essa seja uma história bem sucedida. O que faz muita diferença é a autorização que o professor se dá de ensinar a esse aluno, de acreditar nele sem medo de se frustrar como mestre, de permitir que se expresse e aja de acordo com o que consegue e pode, evoluindo sempre. A espontaneidade nas atitudes, no jeito de lidar e responder a esta criança de forma positiva serve como combustível para despertar o desejo e a curiosidade de aprender. Escutar a criança, dar espaço para que se expresse e aprenda, vivencie e pratique é caminho de sucesso no processo ensino-aprendizagem.
Desde o princípio, uma meta precisa estar focada: a autonomia. É nessa direção que se quer caminhar, chegando a ela com bagagem máxima ou com os mínimos instrumentos necessários. Como para todos os alunos, o professor deve ter em mente não apenas transmitir conteúdos formais, mas sim conteúdos de vida, pré-requisitos para uma autonomia real. Estimular a criança a pensar, perceber e analisar o que está acontecendo a sua volta, levantar possibilidades de resolução de problemas e de escolhas, buscar novas alternativas. A criança que se desenvolve dessa maneira apresentará maior facilidade na assimilação de novos conteúdos e manifestação daquilo que sabe.
E o seu aluno vai precisar de adaptações curriculares? Vão ser necessárias adequações de estratégias? Ele vai acompanhar seus colegas? Não há como saber antes de começar a ensinar e a observar sua aprendizagem. O importante é não iniciar com baixa expectativa, esquartejando conteúdos, supondo um limite de aprendizagem que apenas o tempo e o cotidiano saberão definir. Deixe que seu aluno o surpreenda!
Lembram da conversa de como seria bom se todos os alunos fossem iguais?
Já vimos que não seria tão bom assim, afinal. Bom mesmo seria se pudéssemos saber como cada aluno aprende melhor, e nos adaptássemos a estas informações, respeitando seus tempos e estilos de aprendizagem. Bom mesmo seria se o aluno que aprendesse melhor através de estímulos visuais, tivesse este canal priorizado; que aquele que tem tempo de concentração curto tivesse acesso a variadas atividades abordando um mesmo conteúdo; se o que tem dificuldades de memória fosse estimulado através de lembretes e bilhetes. Isto tudo não só seria bom, como é perfeitamente possível. Basta conhecer seu aluno e acreditar que ele pode aprender, reconhecendo e reforçando o que já demonstrou dominar e, partindo desse sucesso, apresentar novas etapas e novos conhecimentos a serem adquiridos. Basta também estar consciente que a inclusão admite dúvidas, uma vez que é processo em desenvolvimento, desde que acompanhadas de humildade para ir em busca de respostas.
Não existe nada mais simples e verdadeiro do que dizer que a melhor maneira de receber o aluno com SD é recebê-lo de braços e coração abertos, permitir-se olhar aquela criança ou jovem além da síndrome e das eventuais dificuldades que possa trazer. Acreditar nas possibilidades. Se a escola focar suas expectativas e estratégias apenas nas dificuldades do aluno com SD, logo se verá frustrada e desmotivada, pois a defasagem pode acontecer efetivamente. Mas se o foco estiver em suas habilidades e em uma visão competencial da aprendizagem, maior será o resultado alcançado pelo professor, pelo aluno que parecia tão diferente e por seus colegas que certamente também terão seu ensino positivamente contaminado por este modo inclusivo de ver o jeito de aprender de cada um.

Referência Bibliográfica
Adaptação do texto: Recebendo uma criança com SD em sua escola produzido por: Josiane Mayr Bibas, Maria Izabel Valente, disponível em http://www.reviverdown.org.br/pagina_aprendiz_Recebendo.htm


Um comentário:

  1. Receber um portador de SD é um desafio, mas tb é gratificante ver que como que o Down consegue absorver todo o conhecimento adquirido. É uma vitória ver que é perfeitamente possível o Down alcançar sua autonomia.
    Bjs
    Mônica - Grupo E

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