segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SEGUNDO MOMENTO

A PROFESSORA DA MARIANA





Iniciar um ano letivo traz sempre uma ampla gama de sentimentos. Famílias vêm com suas expectativas e valores. Crianças curiosas, inseguras, desafiadoras chegam com seus lápis e cadernos reluzentes.
A professora da Mariana entra na sala cheia de idéias e energia, ávida em conhecer seus novos alunos, estabelecer os primeiros contatos: que bom seria se todos fossem obedientes e interessados. Ela pensa: Que bom seria se todos chegassem no horário, se todos se comportassem bem, se quisessem ir ao banheiro ao mesmo tempo. Que maravilha seria se todos ouvissem igual, entendessem igual, interpretassem igual, aprendessem igual. Se todos aprendessem a ler e escrever no mês de Maio. Que maravilha seria... Mas, como ela era uma professora dinâmica, por alguns momentos pensou: Será que seria mesmo? Seria mesmo tão bom ter diante de si 20 ou 30 seres humanos iguais, que aprendessem do mesmo jeito e ao mesmo tempo? Concluiu consigo mesma sorrindo para os seus alunos: Mais do que improvável, seria chato!
É na diversidade que se aprende, do inesperado é que nascem as idéias, do desequilíbrio é que se faz a transformação. A sala de aula é o local onde se encontram diferentes crianças, vindas de diferentes famílias, cada uma com sua história e seus valores. Querer fazer desse universo uma massa homogênea seria um grande desperdício: quantos pequenos mundos estarão orbitando naquele espaço, construindo e ampliando suas trajetórias reciprocamente nesta convivência? E o que dizer então do professor que, conhecendo seu pequeno e novo universo, seus alunos do ano letivo que se inicia, vê que entre eles há uma criança com Síndrome de Down? Receio? Ansiedade? Tranqüilidade? Indiferença? Desafio? Vamos conhecer o que se passou com a professora da Mariana.

A professora da Mariana passou olhou seus alunos e de repente o seu olhar parou sobre uma menininha diferente, bem mais diferente do que os outros alunos. Ela percebeu que havia naquela sala uma menina especial. Nos dias que seguiram a professora experimentou uma variedade de sentimentos. Ela sentiu receio, ansiedade, insegurança, se sentiu desafiada. Buscou ajuda, mudou hábitos e atitudes: promoveu ações.

Vamos analisar um pouco esses sentimentos e as ações desta professora.
A professora da Mariana ficou receosa diante daquela aluna tão diferente (será mesmo?) dos colegas. No início ela ainda não tinha percebido que todas as crianças são diferentes umas das outras, e que cada aluno merece um ensino personalizado. Por algum tempo ela pensava que inclusão seria receber um aluno com deficiência e procurar torná-lo igual aos seus colegas. Hoje ela sabe que incluir significa exatamente o contrário: o aluno é diferente e todos os seus colegas também o são. Ou seja, todos os alunos são diferentes! A professora ficou receosa devido ao desconhecimento do tema e aos preconceitos adquiridos em formações acadêmicas que ainda não previam o respeito à diversidade. Ela teve que, além de rever o modo como ensina, rever seus conceitos e adaptar-se internamente para incluir. Preparar-se para receber esse aluno é preparar-se para crescer.  
A professora ficou ansiosa, um sentimento natural quando o ano começa com uma nova classe de alunos, e também natural quando se conhece uma criança que inicialmente parece fugir dos padrões. Essa ansiedade oscilou em alguns momentos, ora foi negativa ora positiva. A ansiedade negativa por momentos a congelou, a impediu de tomar atitudes. . A ansiedade positiva a levou à busca de informações, instigou a sua curiosidade e exercitou sua criatividade Mas, esta ansiedade se atenuou à medida que ela percebeu que não precisava saber tudo, dar conta de tudo, resolver tudo. Ela viu os pais e terapeutas como aliados, e passou a acreditar em suas próprias capacidades, bem como nas capacidades da Mariana.
Reconhecer seus sentimentos em relação à inclusão e procurar orientação, ajuda e informações, conhecer outras experiências conversando com outros professores, com a família e os profissionais envolvidos com a criança é uma das formas de realizar um bom trabalho e superar o receio inicial.
A todo o momento a professora buscava informações atualizadas sobre a Síndrome e já tinha segurança nas suas ações.
E a professora acreditou. Ela acreditou na Mariana e acreditou em si mesma.

É esse o sentimento poderoso na inclusão: acreditar. Acreditar que, como professor, pode dar o máximo de si para ensinar, e que seu aluno, com ou sem deficiência, estará dando o seu máximo também.

Referência Bibliográfica

Adaptação do texto: Recebendo uma criança com SD em sua escola produzido por: Josiane Mayr Bibas, Maria Izabel Valente, disponível em http://www.reviverdown.org.br/pagina_aprendiz_Recebendo.htm

Um comentário:

  1. Todos nós sentimos um "friozinho" quando nos deparamos com o inesperado, mas é a partir daí que vamos buscar solução para resolvermos o problema e encontrarmos novamente o equilíbrio.
    Bj
    Mônica - Grupo E

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