segunda-feira, 30 de novembro de 2009

INÍCIO DO SEMINÁRIO- SÍNDROME DE DOWN

MENSAGEM DE PROVOCAÇÃO- Postada no fórum

Mariana é uma garota com Síndrome de Down. Ela tem uma família que luta por ela, professores que acreditam nela e o sistema a reconheceu como cidadã. Hoje, aos 22 anos está cursando a Educação Básica. Ela vai ingressar a 1ª série do Ensino Médio.
Mesmo depois de tantos anos e depois de muitas conquistas, a vida da Mariana não é assim tão fácil. Mas, ela não desiste.
Atualmente ela trabalha num restaurante. Vamos conhecer o dia da Mariana

O DIA DA MARIANA

Hoje, a Mariana acordou cedo e foi para a escola. Lá ela recebeu a atenção de alguns colegas e da sua professora. Sentiu-se cansada, mas mesmo assim ao chegar em casa, almoçou e fez questão de ir trabalhar. Ela trabalha como garçonete, num restaurante localizado no bairro, com garotas e garotos da sua idade.
Depois de um certo tempo trabalhando, atendendo os clientes, Mariana pensou em descansar mas, quando um cliente fez um pedido, não hesitou. Pegou a bandeja e foi levar o lanche para o cliente. Após alguns passos, aconteceu!
O barulho foi horrível e todos olharam para ela. Mariana sentiu o seu rosto pegar fogo. Sentiu novamente uma enorme vontade de correr e se esconder. Olhou para o lado e não hesitou, partiu em passos largos.

O que você diria ou faria para ajudar a Mariana?
Responda primeiro esta pergunta antes de continuar.

CONHEÇA A MARIANA




MENSAGEM PARA OS CURSISTAS
 

Você também acabou de cometer um erro.
Eles podem muito mais do que você imagina. 
Nunca substime um Síndrome de Down!

PRIMEIRO MOMENTO

A CHEGADA DA MARIANA NA ESCOLA PLURAL






A presença de Mariana, uma aluna de 7 anos, com Síndrome de Down, desestabilizou o coletivo da escola. A aluna fora matriculada por iniciativa dos pais, que estavam insatisfeitos com a passagem da filha por duas escolas especiais. Por isso, mostravam-se apreensivos e atentos, receando atitudes e indícios de discriminação. Questionavam procedimentos, contestando qualquer possibilidade de tratamento diferenciado em relação à filha.
Mariana era agitada, não parava na sala de aula, corria pela escola, atirava objetos pela janela, comia papel e cola, não tinha noção de perigo. A primeira iniciativa da escola foi a redução provisória do horário, dispensando a aluna após o recreio, com a intenção de tentar incluí-la progressivamente. Contudo, os pais não aceitaram, por entender que se tratava de medida discriminatória e lesiva do direito à escolarização no horário previsto para todas as crianças. As professoras não se julgavam preparadas para lidar com uma criança com Síndrome de Down. Não sabiam o que fazer e como deviam fazer. Por isso, decidiram recorrer ao Centro de Aperfeiçoamento de Profissionais de Educação-CAPE, que entrou em cena durante as reuniões pedagógicas, nas quais se construíram algumas estratégias de inclusão. O CAPE ampliou as discussões, a partir da problematização dos aspectos observados, elucidação de conceitos, preconceitos, estereótipos e representações do senso comum acerca da Síndrome de Down, contribuindo com subsídios teóricos e práticos, tendo em vista a formação de competência para lidar com Mariana.
Foram realizados encontros, reunindo os pais da aluna, representantes da equipe pedagógica da Regional de referência da escola, representantes da Família Down e do Conselho Tutelar. A escola conseguiu superar as dificuldades iniciais, recorrendo ao CAPE e à Coordenação de Política Pedagógica-CPP, quando surgiam novos conflitos e impasses. Aos poucos, a professora sentiu-se à vontade, criando situações de aprendizagem no sentido de trabalhar as dificuldades de Mariana com os colegas da turma. O coletivo da escola estabeleceu alguns acordos, a fim de fazê-la compreender a rotina da escola, assimilando regras, limites e outros combinados. Desta forma, cada vez que a aluna saía da sala de aula ou cometia algum deslize, o adulto ou criança mais próxima se encarregava de reconduzi-la à sala de aula. Assim, Mariana conseguiu compreender algumas noções elementares, apresentando modificações significativas no comportamento, nas atitudes e na sociabilidade.
Vários fatores favoreceram a inclusão escolar de Mariana:
·        .A concepção da Escola Plural na prática;
·        O projeto pedagógico da escola construído coletivamente;
·        .O espírito de cooperação e interação grupal;
·        .Ambiente escolar estimulante;
·        .Organização flexível do trabalho pedagógico;
·        .Interação com as outras crianças;
·        .Relação da escola com as famílias;
·        .Disponibilidade de uma estagiária para apoiar a turma;
·        .Acompanhamento da CPP, CAPE e Regional;
·        .A possibilidade de formação em serviço;
·        .Diálogo e interlocução com segmentos envolvidos;
·        .Problematização, registro e avaliação contínuos;
·        .Abertura da escola para aprender e assumir desafios.
O sucesso desta experiência, tão sumariamente descrita, traduz-se nos resultados alcançados: desenvolvimento da linguagem, formação de hábitos, assimilação de limites, interatividade, identificação de letras e palavras, manifestação de interesses e habilidades, exercício da curiosidade, entre outros.

Referência Bibliográfica:

Adaptação do texto Necessidades educacionais especiais na escola plural por Elizabet Dias de Sá, Disponível em http://www.lerparaver.com/node/154 , Submetido em Domingo, 25/12/2005 - 10:45 por Lerparaver

SEGUNDO MOMENTO

A PROFESSORA DA MARIANA





Iniciar um ano letivo traz sempre uma ampla gama de sentimentos. Famílias vêm com suas expectativas e valores. Crianças curiosas, inseguras, desafiadoras chegam com seus lápis e cadernos reluzentes.
A professora da Mariana entra na sala cheia de idéias e energia, ávida em conhecer seus novos alunos, estabelecer os primeiros contatos: que bom seria se todos fossem obedientes e interessados. Ela pensa: Que bom seria se todos chegassem no horário, se todos se comportassem bem, se quisessem ir ao banheiro ao mesmo tempo. Que maravilha seria se todos ouvissem igual, entendessem igual, interpretassem igual, aprendessem igual. Se todos aprendessem a ler e escrever no mês de Maio. Que maravilha seria... Mas, como ela era uma professora dinâmica, por alguns momentos pensou: Será que seria mesmo? Seria mesmo tão bom ter diante de si 20 ou 30 seres humanos iguais, que aprendessem do mesmo jeito e ao mesmo tempo? Concluiu consigo mesma sorrindo para os seus alunos: Mais do que improvável, seria chato!
É na diversidade que se aprende, do inesperado é que nascem as idéias, do desequilíbrio é que se faz a transformação. A sala de aula é o local onde se encontram diferentes crianças, vindas de diferentes famílias, cada uma com sua história e seus valores. Querer fazer desse universo uma massa homogênea seria um grande desperdício: quantos pequenos mundos estarão orbitando naquele espaço, construindo e ampliando suas trajetórias reciprocamente nesta convivência? E o que dizer então do professor que, conhecendo seu pequeno e novo universo, seus alunos do ano letivo que se inicia, vê que entre eles há uma criança com Síndrome de Down? Receio? Ansiedade? Tranqüilidade? Indiferença? Desafio? Vamos conhecer o que se passou com a professora da Mariana.

A professora da Mariana passou olhou seus alunos e de repente o seu olhar parou sobre uma menininha diferente, bem mais diferente do que os outros alunos. Ela percebeu que havia naquela sala uma menina especial. Nos dias que seguiram a professora experimentou uma variedade de sentimentos. Ela sentiu receio, ansiedade, insegurança, se sentiu desafiada. Buscou ajuda, mudou hábitos e atitudes: promoveu ações.

Vamos analisar um pouco esses sentimentos e as ações desta professora.
A professora da Mariana ficou receosa diante daquela aluna tão diferente (será mesmo?) dos colegas. No início ela ainda não tinha percebido que todas as crianças são diferentes umas das outras, e que cada aluno merece um ensino personalizado. Por algum tempo ela pensava que inclusão seria receber um aluno com deficiência e procurar torná-lo igual aos seus colegas. Hoje ela sabe que incluir significa exatamente o contrário: o aluno é diferente e todos os seus colegas também o são. Ou seja, todos os alunos são diferentes! A professora ficou receosa devido ao desconhecimento do tema e aos preconceitos adquiridos em formações acadêmicas que ainda não previam o respeito à diversidade. Ela teve que, além de rever o modo como ensina, rever seus conceitos e adaptar-se internamente para incluir. Preparar-se para receber esse aluno é preparar-se para crescer.  
A professora ficou ansiosa, um sentimento natural quando o ano começa com uma nova classe de alunos, e também natural quando se conhece uma criança que inicialmente parece fugir dos padrões. Essa ansiedade oscilou em alguns momentos, ora foi negativa ora positiva. A ansiedade negativa por momentos a congelou, a impediu de tomar atitudes. . A ansiedade positiva a levou à busca de informações, instigou a sua curiosidade e exercitou sua criatividade Mas, esta ansiedade se atenuou à medida que ela percebeu que não precisava saber tudo, dar conta de tudo, resolver tudo. Ela viu os pais e terapeutas como aliados, e passou a acreditar em suas próprias capacidades, bem como nas capacidades da Mariana.
Reconhecer seus sentimentos em relação à inclusão e procurar orientação, ajuda e informações, conhecer outras experiências conversando com outros professores, com a família e os profissionais envolvidos com a criança é uma das formas de realizar um bom trabalho e superar o receio inicial.
A todo o momento a professora buscava informações atualizadas sobre a Síndrome e já tinha segurança nas suas ações.
E a professora acreditou. Ela acreditou na Mariana e acreditou em si mesma.

É esse o sentimento poderoso na inclusão: acreditar. Acreditar que, como professor, pode dar o máximo de si para ensinar, e que seu aluno, com ou sem deficiência, estará dando o seu máximo também.

Referência Bibliográfica

Adaptação do texto: Recebendo uma criança com SD em sua escola produzido por: Josiane Mayr Bibas, Maria Izabel Valente, disponível em http://www.reviverdown.org.br/pagina_aprendiz_Recebendo.htm

TERCEIRO MOMENTO

O QUE SIGNIFICA RECEBER A MARIANA NA ESCOLA?




O DESAFIO DE ENSINAR

Ensinar é sempre um desafio. Mesmo o professor que se amedronta inicialmente diante do aluno com SD, que em um primeiro momento pensa em fugir da situação é capaz de aprender desde que ele exerça seu papel de educador em sua plenitude.
O que significa receber a Mariana na escola? E o que significa, afinal, receber um aluno com SD em sua sala? Significa, antes de tudo, outro aluno, mais um aluno. A Síndrome de Down se caracteriza por alguns sinais físicos que fazem com que pessoas com a Síndrome sejam parecidas entre si, o que pode levar a posteriores generalizações. Porém, crianças com SD são muitos diferentes entre si, com variados níveis de funcionamento cognitivo, lingüístico, emocional e social. Portanto seu aluno com SD vai se beneficiar com uma avaliação acurada e detalhada para que se possa estabelecer o que ele já sabe, suas competências e suas necessidades (bom mesmo seria se essa avaliação pudesse ser feita com todos os alunos!).

Neste momento, passa pela mente do professor o seu dia cheio de atividades, 20 crianças solicitando sua atenção, atividades a preparar e tarefas a corrigir, e um pensamento inevitável: "Como vou arranjar tempo para fazer uma avaliação detalhada??"  Passou o mesmo na cabeça da professora da Mariana.

Ela é perfeitamente possível, se abranger um parecer dos pais do aluno, laudos de desenvolvimento dos terapeutas que eventualmente o acompanham, dos professores e/ou escola do ano anterior, além de uma observação inicial feita pela própria professora, buscando traçar preferencialmente o conhecimento que o aluno já traz, suas habilidades e talentos, e os canais mais eficientes para se alcançar sua aprendizagem. Uma avaliação que pretenda o levantamento de competências que mostram caminhos, e não apenas das dificuldades que parecem representar grandes obstáculos.
Tendo em mãos estas informações vindas de diferentes fontes, estabelecendo uma rede de apoio com pessoas de dentro e de fora da escola, será possível delinear os caminhos a seguir (abordagem), as metas a atingir (conteúdos) e as ferramentas a utilizar (estratégias), da mesma forma que se pré-estabelecem para todos os alunos.
Mas o grande truque da inclusão é não se fixar no pré-estabelecido. É claro que ensinar a uma turma sem uma direção pretendida seria submergir no caos da liberalidade exagerada, mas incluir (ou melhor, ensinar a todos) significa estar aberto a mudanças, a revisões de percurso, à busca de novos recursos, à criação ou resgate de novas estratégias e materiais, a admitir que preconceitos e rotas pré-determinadas podem sub ou superestimar rendimentos e funcionamentos.
Deixar que as coisas aconteçam no seu tempo, sem descuidar ou adotar atitude passiva, permite que a criança se sinta segura e confiante e dessa forma possa se mostrar. É importante explorar a fase inicial do ano letivo, estabelecendo uma relação positiva e saudável que auxiliará no enfrentamento de novas situações, sejam elas de conquista ou de dificuldades encontradas. Uma relação baseada em sentimentos firmes de confiança e credibilidade permite a experimentação, o acerto e erro e promove aprendizagem.
Saber desta criança, conhecer sobre a síndrome, sobre o histórico escolar e de vida é sem dúvida importante, mas acreditar, sem deixar de ser realista, nas possibilidades da inclusão é o que vai permitir que essa seja uma história bem sucedida. O que faz muita diferença é a autorização que o professor se dá de ensinar a esse aluno, de acreditar nele sem medo de se frustrar como mestre, de permitir que se expresse e aja de acordo com o que consegue e pode, evoluindo sempre. A espontaneidade nas atitudes, no jeito de lidar e responder a esta criança de forma positiva serve como combustível para despertar o desejo e a curiosidade de aprender. Escutar a criança, dar espaço para que se expresse e aprenda, vivencie e pratique é caminho de sucesso no processo ensino-aprendizagem.
Desde o princípio, uma meta precisa estar focada: a autonomia. É nessa direção que se quer caminhar, chegando a ela com bagagem máxima ou com os mínimos instrumentos necessários. Como para todos os alunos, o professor deve ter em mente não apenas transmitir conteúdos formais, mas sim conteúdos de vida, pré-requisitos para uma autonomia real. Estimular a criança a pensar, perceber e analisar o que está acontecendo a sua volta, levantar possibilidades de resolução de problemas e de escolhas, buscar novas alternativas. A criança que se desenvolve dessa maneira apresentará maior facilidade na assimilação de novos conteúdos e manifestação daquilo que sabe.
E o seu aluno vai precisar de adaptações curriculares? Vão ser necessárias adequações de estratégias? Ele vai acompanhar seus colegas? Não há como saber antes de começar a ensinar e a observar sua aprendizagem. O importante é não iniciar com baixa expectativa, esquartejando conteúdos, supondo um limite de aprendizagem que apenas o tempo e o cotidiano saberão definir. Deixe que seu aluno o surpreenda!
Lembram da conversa de como seria bom se todos os alunos fossem iguais?
Já vimos que não seria tão bom assim, afinal. Bom mesmo seria se pudéssemos saber como cada aluno aprende melhor, e nos adaptássemos a estas informações, respeitando seus tempos e estilos de aprendizagem. Bom mesmo seria se o aluno que aprendesse melhor através de estímulos visuais, tivesse este canal priorizado; que aquele que tem tempo de concentração curto tivesse acesso a variadas atividades abordando um mesmo conteúdo; se o que tem dificuldades de memória fosse estimulado através de lembretes e bilhetes. Isto tudo não só seria bom, como é perfeitamente possível. Basta conhecer seu aluno e acreditar que ele pode aprender, reconhecendo e reforçando o que já demonstrou dominar e, partindo desse sucesso, apresentar novas etapas e novos conhecimentos a serem adquiridos. Basta também estar consciente que a inclusão admite dúvidas, uma vez que é processo em desenvolvimento, desde que acompanhadas de humildade para ir em busca de respostas.
Não existe nada mais simples e verdadeiro do que dizer que a melhor maneira de receber o aluno com SD é recebê-lo de braços e coração abertos, permitir-se olhar aquela criança ou jovem além da síndrome e das eventuais dificuldades que possa trazer. Acreditar nas possibilidades. Se a escola focar suas expectativas e estratégias apenas nas dificuldades do aluno com SD, logo se verá frustrada e desmotivada, pois a defasagem pode acontecer efetivamente. Mas se o foco estiver em suas habilidades e em uma visão competencial da aprendizagem, maior será o resultado alcançado pelo professor, pelo aluno que parecia tão diferente e por seus colegas que certamente também terão seu ensino positivamente contaminado por este modo inclusivo de ver o jeito de aprender de cada um.

Referência Bibliográfica
Adaptação do texto: Recebendo uma criança com SD em sua escola produzido por: Josiane Mayr Bibas, Maria Izabel Valente, disponível em http://www.reviverdown.org.br/pagina_aprendiz_Recebendo.htm


QUARTO MOMENTO

A escola da Mariana
 

A Escola Plural
 
Uma das noções mais difundidas na realidade brasileira é a de que a rede pública não está capacitada para receber crianças com necessidades educacionais especiais, seja por deficiência física, sensorial ou mental. Por isto, a educação especial tem-se mostrado como uma espécie de limbo, para onde são encaminhados os educandos considerados ineptos ou incapazes de aprender, espelhando as mazelas do sistema educacional. Ora, tais educandos mostram-se ineptos do ponto de vista de que e de quem? Parecem incapazes de aprender o quê? Por quê? para quê? Estas e outras questões suscitam uma reflexão sobre a ação pedagógica, a problemática da função social da escola e os mecanismos de inclusão/exclusão social.
A deficiência tem sido concebida como condição incapacitante e impeditiva, inspirando atos de caridade, proteção e filantropia. O enfoque assistencial e o terapêutico, predominantes nas tentativas de escolarização de crianças com necessidades educacionais especiais, têm evoluído da negação ao reconhecimento do direito sob condições, ou seja: tais alunos devem aprender em ambientes os menos restritivos possíveis, mediante adaptações física, funcional e curricular. Nesta perspectiva, a contemporaneidade produz o confronto entre dois eixos paradigmáticos e emergentes: o da integração e o da inclusão escolares. No primeiro caso, o aluno é o foco central, tendo como referência sua capacidade ou não de adaptar-se à escola. Para isto, devem ser viabilizadas modalidades educacionais como suporte pedagógico, indispensáveis às exigências do desempenho escolar esperado. O aluno deve freqüentar a escola regular, se houver um aparato de condições disponíveis, como recursos materiais e humanos, atendimentos terapêutico e reabilitatório. Em decorrência, poucos conseguem permanecer na escola, interrompendo o percurso escolar ou fortalecendo um vínculo de dependência com a Instituição especializada.
Práticas seletivas e excludentes contribuem para ampliar a casuística de insucesso nas escolas, servindo como justificativa da resistência por parte de pais e educadores à idéia da inclusão escolar. Não raro, são evocados exemplos de situações traumáticas e mal sucedidas em relação às tentativas frustradas de integração, que acabam por deixar o aluno relegado à própria sorte no ambiente escolar. Os pais costumam exprimir, em depoimentos impregnados de exaltação e angústia, a intenção de evitar que seus filhos sejam tratados como "cobaias" de pretensas tentativas de integração nas escolas regulares. Ao mesmo tempo, experiências bem sucedidas costumam ser ignoradas ou atribuídas ao esforço pessoal, à persistência do aluno e/ou da família, aliados à boa vontade, à dedicação e ao dinamismo da professora. Dificilmente, são apontadas como responsabilidade do coletivo da escola.
O paradigma da inclusão escolar desloca a centralidade do processo para a escola, tendo por prinçípio o direito incondicional à escolarização de todos os alunos nos mesmos espaços educativos. Produz uma inversão de perspectiva no sentido de transformar a escola para receber todos os educandos com suas diferenças e características individuais. A concretização desta possibilidade não dispensa o adequado aparelhamento da escola e a capacitação docente. Reconstruir uma escola exige a revisão de posturas e concepções, o reordenamento do trabalho pedagógico e o investimento vultoso em estruturas includentes.
O ideário da inclusão deve ser concebido como intervenção no real, isto é, não se deve admitir que o alunado permaneça do lado de fora, esperando a escola ficar pronta para recebê-lo. Trata-se de mantê-la completamente aberta para aprender com a diversidade e a partir dela. Para isto, será necessário quebrar resistências, remover barreiras físicas e atitudinais, enfrentando conflitos e contradições, revendo estratégias de aprendizagem, com ênfase na construção coletiva.
Os eixos da Escola Plural traduzem princípios fundamentais de uma educação inclusiva. Visam assegurar o acesso e o percurso escolares bem sucedidos a todos os educandos em uma escola qualitativamente capaz de responder aos desafios da heterogeneidade. Para isto, a noção de educação, como direito, deve ser concebida e interpretada em sua plenitude, como legado inegociável na construção da cidadania. Uma escola plural e inclusiva exige um movimento de renovação pedagógica, promovendo a ruptura com velhos paradigmas e práticas maniqueístas, tornando-se necessário desfazer crenças e construtos internalizados dogmaticamente.
A Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte vem enfrentando o desafio da inclusão escolar, procurando reverter o percurso da exclusão, ao investir na transformação global da escola e no redimensionamento da organização do trabalho pedagógico. A Escola Plural vem sendo construída a partir de experiências inovadoras e da ação pedagógica comprometida com o direito à educação na perspectiva da diversidade. Trata-se, portanto, de fortalecer o princípio de uma educação inclusiva, tendo como referência o educando no centro do processo e a escola como espaço privilegiado de formação e construção de conhecimento. Neste sentido, a escola construirá competências e estratégias de aprendizagem, a partir das necessidades reais do alunado.
A presença de alunos com necessidades educacionais especiais na sala de aula é um fenômeno educativo que produz conhecimento e transformação. Experiências dispersas de inclusão escolar de educandos com paralisia cerebral, Síndrome de Down, deficiências visual e auditiva, microcefalia, entre outras, constituem-se como iniciativas exemplares da possibilidade de concretização e legitimação de uma escola inclusiva. O recorte de uma destas experiências contribui para ilustrar o dinamismo da Escola Plural.

Assumindo os desafios da inclusão escolar

A Secretaria Municipal de Educação vem expandindo gradativamente a oferta de educação infantil no âmbito da rede pública. Uma destas escolas começou a funcionar em dois turnos, com um total de 176 alunos de 4, 5 e 6 anos, agrupados em turmas de 25 alunos. A escola construiu seu projeto político- pedagógico em consonância com o programa da Escola Plural, assegurando a proporcionalidade de 3 professoras para cada duas turmas, 4 horas de projeto para cada docente e 2 horas semanais para reunião com o coletivo do turno. A coordenação pedagógica é constituída pela direção da escola, uma professora eleita e a orientadora educacional. Quando se trata de escolas de ensino fundamental, organizadas por ciclos de formação, essa composição é variável, dependendo do número de turmas em cada ciclo.

Referências Bibliográficas

Necessidades educacionais especiais na escola plural, por Elizabet Dias de Sá. Disponível em http://www.lerparaver.com/node/154. Submetido em Domingo, 25/12/2005 - 10:45 por Lerparaver





domingo, 29 de novembro de 2009